AVANHANDAVA

No dia 07 de setembro de 1938 foi fundado o quarto grupo escoteiro do Estado de São Paulo: a Associação Escoteira Avanhandava.

Um grupo de judeus alemães estabelecido no Brasil, após a fuga da Europa devido ao nazismo, encontram um país com um governo de cunho ditatorial, o Estado Novo de Getúlio Vargas.

Espionados por serem judeus e estrangeiros eram absolutamente proibidos de promoverem reuniões.

Sob o constante perigo de ameaça de conspiradores, os jovens eram privados de encontros em grande grupos, o que era uma situação bastante difícil para estrangeiros com uma cultura, história e religião comum.

O escotismo funcionou então como uma camuflagem. Como os valores do escotismo são muito parecidos com os do judaísmo, foi muito fácil unir os dois na ideologia do movimento. Era a única maneira pela qual seus encontros seriam desvinculados do estado de estrangeiros ou judeus. Com a total proibição de utilização de nomes estrangeiros, surge do Tupi-Guarani, a Avanhandava, que significa “Caminho por onde o homem corre”, que denota um caminho ao redor de um obstáculo – uma cachoeira, geralmente.

Os principais fundadores da Avanhandava foram a diretoria da CIP, mas as principais lideranças no início foram o Casal Speyer, Wilhelm e Anita Speyer.

A Avanhandava desde então, passou por uma série de mudanças bastante significativas. Uma delas foi a adaptação das meninas, de escoteiras para bandeirantes, decorrente dos esforços da Avanhandava para que elas fossem aceitas no Movimento Bandeirante (MB). Havia, no MB, uma lei que dizia:

Toda bandeirante é cristã”.

Após muita insistência de jovens da Avanhandava, o MB nacional alterou a lei para “Toda bandeirante acredita em Deus”, o que permitiu o ingresso da Avanhandava no MB, bem como de outros distritos. Além disso, o broche da promessa (distintivo muito importante dentro do Bandeirantismo) era uma Cruz de Malta, e foi mudado para uma Cruz com uma Maguen David dentro. Ainda insatisfeitas, as bandeirantes da Ava insistiram em outra alteração, e hoje o broche é o trevo.

Outra mudança veio quando um grupo de jovens dentro do movimento começou a ter idéias diferentes e se focar em objetivos distintos dos da Avanhandava, principalmente no que diz respeito a fazer Aliá ao final do processo educativo da tnuá.

Esse grupo decidiu se separar e formou a LeHavá, que posteriormente tornou-se a Chazit Hanoar.

Na década de 90, a Avanhandava começou a se envolver mais com Israel, começando a fazer shnat e tendo um maior número de olim (pessoas que vão morar em Israel).

Recentemente, por pressão da Avanhandava, houve uma mudança no primeiro artigo da Lei Escoteira.

Antes, a versão brasileira dizia que “O Escoteiro tem uma só palavra, e sua honra vale mais que sua própria vida”, o que vai contra o valor judaico de que nada vale mais do que a vida. Atualmente, diz que “O Escoteiro é honrado e digno de confiança”, uma tradução mais próxima do original do fundador Baden-Powell e que não fere os valores judaicos.

Hoje, continuamos participando ativamente de todas as comunidades às quais pertencemos e vivendo os nossos lemas:

“Uma vez Avanhandava, Sempre Avanhandava.
Um por todos, todos por um.
Sempre alerta.
Melhor possível.
Semper Parata.
FAS – A Fada Ajuda Sempre Servir”.

 

Depoimento: “Foi só quando eu ouvi você falar pra mãe de uma criança de 9 anos: pode deixar, tia, eu cuido dele no final de semana, que me caiu a ficha…” Minha mãe, a psicanalista Daniela Sitzer, 20 anos depois de me deixar na minha primeira atividade na Avanhandava em 1983.

Foi ali, vendo o filho dela, aos olhos da mãe, como hoje ela ainda me vê, um moleque, assumir a responsabilidade por uma outra criança um pouco mais nova que eu, que caiu a ficha dela, que até hoje fala: “quando te deixei lá a primeira vez eles pareciam tão adultos, mas quando te vi “o adulto”, eu não acreditava que te deixei lá 20 anos antes”.
A minha história com a Avanhandava é longa e linda.(…)

Entrei com 6 anos. Vi os 50 ainda lobinho, organizei os 60. Vi os 70. Escrevo pros 80. Vivi cada fogo de conselho. Cada rápido e cada devagar. Cada bravo. (…) Fui lobinho, júnior, sênior, chefe, chinuch, guizbar, madrich, mazkir e feliz demais. Na época a gente não percebe, mas porque a Avanhandava era bancada pela CIP, eu fui de graça para Israel a primeira vez, pra Stanford, pro Chile. Mas eu ainda xingava o rabinato.

Minha primeira namorada veio de lá. Minha primeira barraca suspensa. A piscina mais gelada do mundo era Ingá. Deram-me uma machadinha aos 11. Caramba, eu tinha uma peixeira afiada!(…)

Futebol? Não. Bola de fogo (…)

E o muito mais, hoje, de onde eu estou, aos 41 anos, com 20 de Avanhandava, lhe digo com certeza: Nada me preparou tão bem quanto fazer parte de um movimento juvenil ontem.

Sabem por quê? Pelo conceito da educação do jovem pelo jovem. É fantástico.

É o que falei lá em cima, na verdade minha mama que falou.

Mas não conta pra ela, afinal, ela queria que eu fosse médico.

Nada do que você vai viver na tua juventude te dá a confiança que um movimento juvenil te dá.

Modéstia a parte, e tenho certeza que não falo só por mim, mas por todo mundo que passou por aqui, me responde:

1-) você fala em público como poucos profissionais que conhece?

2-) você não tem nenhum medo de levantar a mão e perguntar por que? De elogiar o que concorda e criticar o que discorda? E crescer com isso?

3-) As pessoas que trabalham e convivem contigo admiram tua sinceridade e liderança?

Isso não veio da escola. Isso não veio de casa. Veio de movimento juvenil.

Meu primeiro filho vai nascer em outubro. Tudo que eu quero é que ele esteja numa ferradura. E que babe de rir.

Kadima Avanhandava.

Parabéns e obrigado. Muito obrigado.” Partes da Crônica de Ricardo Sitzer escrita para o Livro de 80 anos da Avanhandava.

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